13 de ago. de 2010

Alice e outros eus


 “Sempre em busca de objetos curiosos, restos de brinquedos, cacos de mundos e rastros de estórias, Adriana Peliano costura desejos, monstros e contos de fadas. Suas colagens, metamofoses e assemblagens despertam inventários mágicos e múltiplos, onde a lógica do cotidiano é reinventada em novos sentidos e narrativas, criando jogos de linguagem e labirintos de sonhos. Tudo se transforma para contar novas estórias, abrindo portas para o maravilhoso.” 
 

Adriana Peliano é artista visual, designer, ilustradora, escritora e uma espécie de Alice. Seu trabalho como artista viaja em diferentes suportes como os objetos surrealistas, a colagem, o vídeo e a instalação; e como designer, dialoga com outras artes como a literatura, o teatro, a música e a moda. A colagem em diversas manifestações estéticas e a integração entre linguagens é a marca de sua produção artística. Formada em Comunicação Social na Universidade de Brasília (1999), fez pós graduação em Design Gráfico no SENAC/SP (2001); mestrado em Artes Visuais e novas mídias em Kent / UK (2003) e mestrado em Estética e História da Arte na USP/SP (2012), com orientação de Katia Canton, defendendo a dissertação “Através do Surrealismo e o que Alice encontrou lá”.






A primeira Alice que conheci foi a do desenho da Hannah Barbera. Era uma Alice pós moderna, que ao invés da toca do coelho, caía dentro do aparelho de TV, encontrava Fred Flinstone e andava pela estrada de tijolos amarelos do mágico de Oz (na minha memória eram amarelos, depois de anos descobri que eram azuis). Esse jogo intertextual de cruzamentos de universos ficcionais conduz até hoje meu interesse por Alice, fascinada que sou pelas viagens da menina por outros reinos, como o Sítio do Picapau Amarelo de Monteiro Lobato. Alice de fato conheceu Emília e Narizinho em algumas estórias do autor brasileiro.




leia o artigo

Aventuras de Alice no Sítio do Picapau Amarelo
por Adriana Peliano


Alice e Emília por Jô Oliveira
Hoje me recordo também das leituras ávidas e curiosas da coleção "Thesouro da Juventude", enciclopédia criativa que ficava na última prateleira da estante da casa dos meus avós. Entre "cousas" que podemos fazer, o livro dos porquês, lições atraentes, astronomia e poesia, encontrei uma versão reduzida das aventuras de Alice no livro dos contos. As ilustrações eram de Harry Furniss, ilustrador que trabalhou com Lewis Carroll e criou imagens mais sombrias e perturbadoras do que as clássicas imagens de John Tenniel.

Thesouro da juventude. c/ 1925.


Meu primeiro livro de Alice

 Aos nove anos ganhei a minha primeira edição de Alice, ilustrada pelo Nicolas Guilbert. Diferente da Alice loira e comportada da Disney, essa Alice era morena e assustada, e me identifiquei logo com ela e seus conflitos em um mundo estranho onde ela tentava encontrar o seu lugar. Aos quinze anos descobri a edição da Summus, com um complexo prefácio de Sebastião Uchoa Leite que me revelou uma nova Alice sob o prisma da semiótica, da psicanálise e da filosofia. A obra de Gilles Deleuze "A Lógica do Sentido" foi então a travessia do Espelho. Juntamente com a obra de Gilles Deleuze, outra grande inspiração para as minhas criações foram as anotações fundamentais e inspiradoras de Martin Gardner e sua rede de conexões multidimensionais em "The Annotated Alice".

Alice adulta


Alice filosófica


Alice Anotada
 

Na década de 90 fui visitar em Brasília, aonde vivia, uma exposição de ilustradores de Alice. Fiquei tão fascinada que decidi que dali pra frente também ilustraria os livros de Alice e embarquei numa viagem nesse mundo fascinante, labiríntico e paradoxal. Ilustrei as duas obras (Aventuras de Alice no país das maravilhas e Através do espelho e o que Alice encontrou lá) com uma técnica inédita, misturando objetos, assemblagens, fotografia e computação gráfica. Essas ilustrações foram mostradas em 98 em Oxford, em Christ Church, universidade onde Carroll trabalhou e viveu, na comemoração do centenário da morte do autor.
 
Veja as alicinações de Adriana Peliano  AQUI

Chapeleiro

 Coelho Branco

Lacaio Rã

Comemoração do centenário da morte de Lewis Carroll (Charles Dodgson, 1832 - 1898)

Oxford, 1998.








Me tornei então membro das Sociedades internacionais dedicadas ao estudo e a divulgação da obra de Lewis Carroll. Naquele momento minha coleção de edições de Alice crescia rapidamente, na medida em que freqüentava sebos e encomendava edições raras de diferentes partes do mundo. Hoje sou membros das Sociedades Lewis Carroll da Inglaterra, dos Estado Unidos e do Japão.





Em 2009 decidi criar a Sociedade Lewis Carroll do Brasil para reunir outros alicinados como eu e produzir novas reinações inspiradas na obra do autor. Já fizemos um grande evento multimídia com música, literatura, cinema e artes plásticas. Tenho dado também uma série de palestras sobre a história das ilustrações de Alice e workshops onde as pessoas recriam Alice no imaginário caleidoscópico contemporâneo, através de colagens e livre associações. A Sociedade tem quatro blogs onde publico centenas de informações interessantes sobre o assunto, entre arte, teoria e variedades.


artes | alicenations

artigos | alicenagens

eventos | Um dia, Alice

oficinas | Alicequem





Minha coleção conta atualmente com cerca de 420 items entre livros sobre a vida e a obra de Lewis Carroll, edições de Alice, filmes, brinquedos e objetos curiosos. Tenho algumas edições raras como um facsímile do manuscrito original de Alice numa edição comemorativa com uma linda caixa toda gravada em dourado. Tenho também edições japonesas com ilustrações do artista tcheco Jan Svankmajer, diretor da Alice mais impressionante que já foi criada para o cinema.


Conheça mais as minhas Alicinações












Fotos: Paulo Beto





Em 2015 foi comemorado o desdesaniversário de 150 anos de Alice no País das Maravilas. 

Nesse ano ilustrei as duas Alices de Lewis Carroll, 
que foram publicadas numa edição especial da Zahar, com tradução de Maria Luiza Borges.

Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho e o que Alice encontrou lá.

para comprar

 colagem de Adriana Peliano

 colagem de Adriana Peliano

No mesmo ano fui aos Estados Unidos participar da festa de Alice e as diversas atrações promovidas pela Sociedade Lewis Carroll da América do Norte. Nesse site conheça várias das atrações alicedélicas que ocorreram pelo mundo. Saiba mais

Participei dos eventos apresentando uma palestra sobre Alice, a arte e a colagem. Saiba mais

DE Nova York fui para a Califórnia conhecer a coleção maravilhosa de Sandor e Mark Burstein.




 Em 2016 participei de uma exposição de loucos chapéus para receber o novo filme de de Alice produzido pelo Tim Burton.
 
veja me

Chapéus Vortex

E é claro! Colaborei na exposição multiencantada "Experiência Alice", 
idealização da Ong Orientavida, cenografia do pessoal do Case lúdico
partindo do imaginário Disney. 
Fiz a curadoria da primeira sala na qual emprestei quase 70 livros da minha coleção alicedélica com diferentes  ilustradores da obra literária. Também fiz mini assemblagens, colagens e textos para as portas enigmágicas que cercavam o espaço.

 


Um comentário:

Joana Clara disse...

Que sonho! "Alice no País das Maravilhas" é uma das minhas maiores paixões.

Aproveito para partilhar o meu cantinho, regado com muito amor e pós mágicos. Espero que gostes e que te possas tornar minha seguidora:

http://ascavalitasdovento.blogspot.com/

Um beijinho *