11 de jul. de 2010

Clalice



Mas quem é que fabrica esse tecido?
Esse tecido é feito pela fada miragem.
E como é cortado?
Com a tesoura da imaginação.
E com que agulha é costurado?
Com a agulha da fantasia.
E com que linha?
Com a linha do sonho.




Assim fez dona Aranha o maravilhoso vestido de noiva de Narizinho, em suas Reinações. Assim costurei as aventuras de Alice e os mergulhos de Clarice, numa nova viagem em que Alice incorpora Clarice entre águas vivas, alicinações e claricinações.


Clalice

Eu estava deitada na margem do rio sem nada fazer. Pensava lentamente, quase sem palavras. Era noite plena e eu estava plena da noite que escorria com perfume de amêndoas doces. Queria morder as estrelas, morder estrelas sim, por que se o brilho das estrelas dói em mim, se é possível essa comunicação distante é por que alguma coisa semelhante a uma estrela tremula dentro de mim. Eu queria ser estrela. Meu corpo sentia a terra, tão profunda e tão secreta que não havia entendimento que dissolvesse o seu mistério. A primeira verdade está na terra e no corpo. De volta ao corpo, me assustei. Posso até acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida, mas me sinto espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma. Também me surpreendo que haja tanta coisa em mim além do conhecido, tanta coisa sempre silenciosa. Sinto o ar fresco circular por dentro como saído de alguma gruta oculta, úmida e fresca.














Colagens de Adriana Peliano sobre desenhos de René Bour,
(para uma edição francesa de Alice rara, da década de 50)
e fotografias de Alice Liddell por Julia Margaret Cameron


Um comentário:

Jeferson Cardoso disse...

Monteiro Lobato influenciou muitas imaginações, inclusive essa postagem.
Jefhcardoso do
http://jefhcardoso.blogspot.com