ALICINAÇÕES (1998)
Alice, entendida aqui como o caos-cosmos definido a partir das duas Alices de Lewis Carroll: Alice no país das Maravilhas (1865) e Através do espelho e o que Alice encontrou lá (1872), ainda é um grande enigma. Paradoxo, nonsense, jogo, labirinto. O País das Maravilhas e o País do Espelho não são espaços geográficos, construídos dentro de uma topografia linear e contínua, mas de quebra-cabeças, tabuleiros, espelhos, rupturas e deslocamentos. O universo se expande, se comprime e se inverte enquanto Alice perde e procura sua identidade, prestes também a perder a cabeça. Enquanto isso ela se move no terreno movediço da linguagem que se desmonta e revela suas armadilhas lógicas e semânticas.
Se o texto é assim, por que as suas ilustrações são em geral tão literais e unívocas? A proposta da pesquisa Alicinações foi portanto a de ilustrar novamente as duas Alices, operando uma nova relação entre texto e imagem, na busca de uma aproximação de Alice em sua maior complexidade. Tendo como referência a obra de Deleuze, Lógica do Sentido, a pesquisa desenvolveu-se em duas etapas: dos corpos em profundidade aos acontecimentos de superfície. Corpos em profundidade, os personagens das duas obras foram construídos através de montagens com objetos diversos, segundo seus atributos lógicos, nomes, significados incorporados pelo uso e características formais.
Na segunda etapa os personagens criados foram então fotografados e digitalizados, e os acontecimentos de superfície foram desenvolvidos através de computação gráfica. Buscou-se recriar através de imagens, a lógica e o sentido do texto, abrindo assim o leque de referências e possíveis leituras para os diálogos, personagens, situações e espaços imaginários propostos nas duas obras. As ilustrações foram elaboradas através de colagens a partir das fotografias dos personagens, entre outras tantas possibilidades. Também foram utilizadas as ilustrações originais de Tenniel, segundo novas relações de intertextualidade. Como um jogo multifacetado de espelhos, refletindo diferentes possibilidades de leitura da obra segundo diferentes contextos históricos e culturais.
Jogos de linguagem, paradoxos lógico - semânticos, enigmas, múltiplos significados. Como num grande jogo, o objetivo é desnudar relações imprevistas, desvendar lógicas implícitas, repropor enigmas e paradoxos.
ALICINATIONS (1998)
Alice, understood as the chaos-cosmos amalgamation of both Alice books, “Alice in Wonderland” and “Through the Looking - Glass” and what Alice found there, is still an amazing enigma; paradox, nonsense, game, labyrinth of dreams.
Wonderland and the other side of the looking glass are not geographical spaces with a linear and continuous topography but a sequence of puzzles, game boards, mirrors and labyrinths. The universe expands, contracts and gets inverted while Alice loses and looks for her identity. All of this with the gloomy threat of losing her head. Meanwhile, she moves throughout the sliperry terrain of language which falls apart revealing its own logic and semantic traps.
If the texts are so complex, why should their illustrations be so literal and unequivocal? Bearing this question in mind, the purpose of this research is to reillustrate both Alices, operating within a new relation between text and image, in search for a dialog betwen Alice and her complexities. The following illustrations are, at first, aimed at amateurs and Alice’s lovers and, more than that, at those who search for new puzzles to solve and new doors to open within the labyrinthic domains of language.
These are illustrations wich contain a personal, investigative, and open approach to the logical ans symbolic aspects of Alice’s books. An uncompromising approach to the physical aspects of the characters or to the situations of the narrative. For a more direct relation between the events of the story and their illustrations, there is, indeed, quite an extensive catalogue of choices for one to revel upon. Here we start from a process of discovery, image and expressive materials research. In addition, a theoretical and iconographic investigation is conducted in order to get closer to the texts, open doors, and persue through rooms and secret passages in the immense labyrinth that Alice is.
While falling through the deep well, her rite of passage between the routine of common sense and the reality reinvented through the language and logic of nonsense, Alice had enough time to look around and think about herself. Little by little, she bids goodbye to her form of loving, speaking, and also of relating to objects. And, as Alice’s fall toward the depths of the Earth proceeded, the meaning slowly crept toward the surface of the language.
Having Deleuse’s Logique du Sens as its guiding framework, the research was cunducted in two main levels: bodies in depth and surface developments.
Bodies in depth dealt with the physical construction of the characters of both Alices using a plethora of everyday objects and toys according to their logical attributes, their names and their meanings, both in its usage and its formal characteristic dimensions. After their construction, the characters were photographed and digitalized.
The surface development phase worked upon the events and scenes of the text using the digitalized images of the previous phase. Thus, it was recriated through digital manipulation of the images the logic and meaning of the text, allowing a fanning of possible readings and references for the dialogs, characters, situations and imaginary spaces proposed by Carroll in both Alices. The illustrations were developed in Photoshop as collages utilizing the pictures of the characters, other objects and a repertoire of images referring to the biographic context, among other possibilities. In addition, the original illustrations by Tenniel were also worked upon, following new relations of intertextuality - like a multifaceted game of mirrors, reflecting distinct possibilities of reading Alice in both historical and cultural contexts.
Puzzles of language, logic paradoxes, enigmatic dreams, multiple meanings. As in a wonderful maze, we aim to uncover unexpected relations and recreate nonsense rules to the games. Undo a puzzle of thousands peaces, to begin again and again.
Colagem sobre fotografia de Cindy Sherman |
Esse trabalho foi realizado entre 1996 e 1999.
Em 1997 recebeu bolsa de Iniciação Científica na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília com orientação do professor Wagner Rizzo.
Em 1998 foi apresentado em Oxford no centenário da morte de Lewis Carroll, evento promovido
pela Lewis Carroll Society.
Em 1999 se desdobrou no meu projeto de conclusão de curso, também com orientação de Wagner Rizzo.
Um comentário:
Adriana, adorei o seu trabalho todo mas ameeeei de paixão esta série dos gatos. Fortíssima, limpíssima, super sintética. Mil parabéns por ela.
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